segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ninguém de Tati Bernardi

Sapato baixo, calça larga e cabelo preso. Esquentou e seus ombros tensos agradecem. Que cara bonita é essa? Já logo no elevador. Ah, devo ter dormido bem. Bom dia, bom dia. Olha, você está muito bonita hoje. Um fala, outro concorda. E pelos corredores, sorrisos dão continuidade aos elogios. O que é? Que segredo ela guarda? Que novidade é essa? Na cozinha perguntam: novo amor? No estacionamento perguntam: voltou com alguém? No restaurante, na hora do almoço: é alguém novo? Cruza com um namorado antigo "nossa, você tá muito... é o quê? Sexo? A noite toda? Conta, vai, eu agüento ouvir". Contar o quê? No espelho, enquanto escova os dentes, fecha os olhos e sabe pra si o segredo: ninguém. Não gostar de ninguém. Nada. Nem um restinho de nada. Nem de tudo que acabou e nem de nada que possa começar. Nada. Pouco importa qualquer outra vida do mundo. Não é nem pouco, é nada mesmo. Um dia inteiro para achar gostosas coisas bobas como um pacote de pipoca doce, um tênis pink ou a hora do banho quente com músicas recém baixadas e o tapetinho vermelho. Um dia inteiro sem escravidão. O celular, o e-mail, o telefone de casa, o ar, o interfone, a rua. São o que são e não carrascos que nada dizem e nada trazem. Um coração calmo, se ocupando de mandar sangue para as horas felizes de trabalho, estudo, yoga, massagem, dormir, bobeiras, pilates, comer, rir, cabelo, filmes, comprar, trabalhar mais, ler, amigos . É isso. Uma agenda enorme que a ocupa de ser ela e não sobra uma linha de dia pra lamentar existências alheias. Linda, ela segue. Linda e feliz como nunca. O segredo do espelho, escovando os dentes, sozinha, aperta os olhos, segura a alma um pouco sem respirar. Segura a pasta pensando que é um pouco de alma consistente na boca. Não cospe, suporte. Ela pode finalmente suportar seu peso e não dividir isso nem com o ventinho que entra pela janela. Nem com o ralo que a espera boquiaberto. A sensação é a da manhã seguinte que o papai Noel deixava os presentes: não é mentira, é só um jeito de contar a verdade com algum encantamento.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O caso da calcinha

Não, eu não passei a virada do ano de calcinha rosa. Ishi, se funcionasse eu já estaria casada, uso calcinha rosa na virada acho que desde que sai das fraldas, "mamãe quelo botá calcinha rosinha".

Ano retrasado parece mais que eu coloquei umas 300 calcinhas vermelhas uma por cima da outra, esse ano que passou eu cansei de me apaixonar, sério! Não sei se foram meus hormônios, minha carência, eu completando aniversário de solterice, não sei o que foi, só sei que me apaixonei, meu Deus, e como. Metrô, sete horas da manhã, Jéééésus que homem é esse?! To apaixonada. Lá se ia a primeira calcinha (a do réveillon, não pensem besteira!). E assim caminhava, perdia as contas, uns eu permaneci apaixonada por mais que duas horas, outros um pouco menos que isso. Outro eu me apaixonei e chamei de meu, outros de nosso, e alguns não desejei nem pra minha pior inimiga.

Mas foi bom, se apaixonar é bom, quando é instantâneo assim, mais ainda! Sem compromisso, apaixonar só por se apaixonar, olhar, achar bonito, sentir vontade de levar pra casa, e só!
O problema é quando vc se apaixona e acha que gosta, que sente, sofre, ama, acha que não vai conseguir ficar sem. Aí é que entra o apego, e as coisas ruins que ele traz.

O melhor mesmo, de todas essas paixões, é aquela recíproca, aquela paixão de frente pro espelho, refletida, em você, nele, na parede, no chão, na cama, em tudo! Ai como é bom, mas pra ser 100% feliz numa relação dita recíproca, é imprescindível que se apaixone pela pessoa mais importante na sua vida, VOCÊ mesma!! Se olhar no espelho, as vezes nem se sentir tão bonita, mas dizer pra você mesma, você sim é meu grande amor, e esse amor eu não dou pra homem nenhum!!

Que em 2011 todos se apaixonem muito, mas não esqueçam de se apaixonar por si mesma todos os dias!!

ps. Passei de calcinha verde! Esperança em tudo!! Não só no amor!